domingo, 14 de abril de 2013

Pesquisa: Educação e o Governo da Infância Procedimentos Estéticos e Eticos no Cinema

                                                                                                Coordenação profª. Dr. Luiza Monteiro

  A pesquisa visa desenvolver estudo de análise de filmes na busca de perceber as formas de “governo da infância” (Foucault, 2008) e suas vicissitudes presentes no cinema, bem como seus procedimentos éticos estéticos. Tratar as concepções de infância e as práticas educativas representadas pelo cinema, a partir do conceito de “governo da conduta infância” possibilita uma abordagem dos procedimentos éticos e estéticos presente na filmografia, que de conta de analisar tanto os aspectos negativos como positivos das práticas educativas recortadas pelo olhar dos produtores e diretores das produções cinematográficas.  Possibilita, em uma mesma pesquisa, aprofundar a critica acerca da violência contra infância e a adolescência articulada aos contextos sociais e culturais da contemporaneidade, e, ao mesmo tempo, apreender as contribuições do cinema no sentido de possibilitar uma formação ética e estética da criança e do adolescente, uma vez que o cinema pode ser entendido como um campo de produção, reprodução e ressignificação do sujeito, a partir da “técnica” dos cortes, recortes e montagens das linguagens de representações sobre a realidade
Ressalta-se o papel formador da experiência estética na educação do indivíduo. Acredita-se que a relevância deste trabalho radica na proposta interdisciplinar, integradora e critica de diferentes saberes, que permite buscar nas práticas de pesquisa e educativas tanto os fatores científicos, como estéticos e éticos – por meio da articulação educação e cinema - os quais contribuem para uma formação docente, que produza como efeito a reflexão e a  promoção de práticas educativas, que contribua na prevenção dos efeitos de uma formação da criança e do adolescente atravessada por práticas sociais autoritárias e violentas. De tal maneira que, uma proposta interdisciplinar a partir da estética cinematográfica e da ética presente nos filmes e nos textos, permitirá restaurar o diálogo entre os conhecimentos sociológicos, filosóficos, históricos etc., sobre as vicissitudades da infância produzidas pela cultura adulta e um entendimento da criança e do adolescente como sujeitos de direitos, em fase de desenvolvimento, cuja formação representa os efeitos da socialização/educação dessa cultura, tendo o adulto como agente fundamental.  Esta abordagem possibilita aos educadores de modo geral  refletir e ressignificar  as práticas educativas e compreender  os modos históricos de governo da conduta dos infantes. Compreende-se o conceito de sujeito de dois modos: o sujeito de direitos como propõe o Estatuto da Criança e do Adolescente Lei 8.069/90; mas também a criança e o adolescente como sujeito sujeitado, por ser eles ponto de aplicação de técnicas e disciplinas normativas, sem, no entanto usufruírem, da condição de sujeitos soberanos como aponta Foucault (2005). O cinema além de ser uma forma de criação artística, de fruição estética e de veiculação de afetos e valores, ela é, também, um modo de olhar o mundo, que o organiza a partir do movimento das imagens cinematográficas compostas de memórias, ideias, filosofias, estética, ética, poética, existencial, etc. por meios das quais se compreende e se dá sentido às coisas, assim como se as ressignificam e expressam, segundo Teixeira & Lopes (2008).
São diversas as definições de cinema e do seu papel na sociedade. A Polêmica se estabelece desde aqueles que compreendem o cinema como arte àqueles que o pensam como indústria cultural e como mercado do entretenimento (BENJAMIN, 1994). Outras leituras o vêm como agente da história (FERRO, 2010) e como representação social (STAM, 2003).  Este último autor, por exemplo, fala da importância dos pesquisadores e do próprio cinema incorporar a historicidade em suas visões de mundo, como um meio de se apreender a ética contemporânea, cuja base é o respeito e a valorização da diversidade cultural (STAM, 2003). A par das diferenças e da polissemia de sentidos, o cinema se constitui como meio, movimentando a literatura, a pintura, a música, a escultura, a fotografia, a arquitetura, enfim, a arte e a técnica de um modo geral, revelando um potencial estético e ético, ao recortar as diversas narrativas e constituir seu “próprio discurso” por meio de uma bricolagem de linguagens e sentidos. Segundo Stam (2003), no sentido da produção do conhecimento o cinema foi vinculado, por diversos autores, ao modernismo artístico e ao impressionismo como projeto de desafio à percepção e ao entendimento, bem como de vinculação do cinema à arte.
Os sentidos de arte dados ao cinema vão desde a estilização da vida, possibilitada pela tecnologia, a uma analogia com uma sinfonia musical para a significação do cinema como “sinfonia visual”, “a única arte verdadeiramente moderna” (DULAC apud STAM, 2003).
O cinema, arte da visão, assim como a música é uma arte da audição deveria nos conduzir a uma ideia visual constituída de vida e movimento, à concepção de uma arte do olho, transformada em uma inspiração perceptiva que se desenvolve em sua continuidade e que atinge, assim como a música, nossos pensamentos e sentimentos (DULAC apud STAM, 2003. P.51).
Por fim, o movimento e o ritmo compunha a essência da expressão cinematográfica. Abel Gance (1927, apud STAM, 2003,p.51) afirma que “o cinema dotaria os seres humanos de uma nova consciência cinestética: os espectadores ‘ouvirão com os olhos. Prefigurando a visão epifânica do cinema.” Os close-up, produziriam a impressão de uma eterna e evanescente beleza, algo que transcende a arte e a própria vida. Talvez o que se poderia pensar como estética e epifania da existência, efeitos do desejo de superação do real fatídico, tão desejado pelo homem na busca de uma transcendência ao icomodativo.