A pesquisa visa desenvolver estudo de análise
de filmes na busca de perceber as formas de “governo da infância” (Foucault,
2008) e suas vicissitudes presentes no cinema, bem como seus procedimentos
éticos estéticos. Tratar as concepções de infância e as práticas educativas
representadas pelo cinema, a partir do conceito de “governo da conduta
infância” possibilita uma abordagem dos procedimentos éticos e estéticos
presente na filmografia, que de conta de analisar tanto os aspectos negativos
como positivos das práticas educativas recortadas pelo olhar dos produtores e
diretores das produções cinematográficas.
Possibilita, em uma mesma pesquisa, aprofundar a critica acerca da
violência contra infância e a adolescência articulada aos contextos sociais e
culturais da contemporaneidade, e, ao mesmo tempo, apreender as contribuições
do cinema no sentido de possibilitar uma formação ética e estética da criança e
do adolescente, uma vez que o cinema pode ser entendido como um campo de
produção, reprodução e ressignificação do sujeito, a partir da “técnica” dos
cortes, recortes e montagens das linguagens de representações sobre a realidade
Ressalta-se o papel formador da experiência
estética na educação do indivíduo. Acredita-se que a relevância deste trabalho
radica na proposta interdisciplinar, integradora e critica de diferentes
saberes, que permite buscar nas práticas de pesquisa e educativas tanto os
fatores científicos, como estéticos e éticos – por meio da articulação educação
e cinema - os quais contribuem para uma formação docente, que produza como
efeito a reflexão e a promoção de
práticas educativas, que contribua na prevenção dos efeitos de uma formação da
criança e do adolescente atravessada por práticas sociais autoritárias e
violentas. De tal maneira que, uma proposta interdisciplinar a partir da
estética cinematográfica e da ética presente nos filmes e nos textos, permitirá
restaurar o diálogo entre os conhecimentos sociológicos, filosóficos,
históricos etc., sobre as vicissitudades da infância produzidas pela cultura
adulta e um entendimento da criança e do adolescente como sujeitos de direitos,
em fase de desenvolvimento, cuja formação representa os efeitos da
socialização/educação dessa cultura, tendo o adulto como agente
fundamental. Esta abordagem possibilita
aos educadores de modo geral refletir e
ressignificar as práticas educativas e
compreender os modos históricos de
governo da conduta dos infantes. Compreende-se o conceito de sujeito de dois
modos: o sujeito de direitos como propõe o Estatuto da Criança e do Adolescente
Lei 8.069/90; mas também a criança e o adolescente como sujeito sujeitado, por
ser eles ponto de aplicação de técnicas e disciplinas normativas, sem, no
entanto usufruírem, da condição de sujeitos soberanos como aponta Foucault (2005).
O cinema além de ser uma forma de criação artística, de fruição estética e de
veiculação de afetos e valores, ela é, também, um modo de olhar o mundo, que o
organiza a partir do movimento das imagens cinematográficas compostas de
memórias, ideias, filosofias, estética, ética, poética, existencial, etc. por
meios das quais se compreende e se dá sentido às coisas, assim como se as
ressignificam e expressam, segundo Teixeira & Lopes (2008).
São diversas as definições de cinema e do seu
papel na sociedade. A Polêmica se estabelece desde aqueles que compreendem o
cinema como arte àqueles que o pensam como indústria cultural e como mercado do
entretenimento (BENJAMIN, 1994). Outras leituras o vêm como agente da história
(FERRO, 2010) e como representação social (STAM, 2003). Este último autor, por exemplo, fala da
importância dos pesquisadores e do próprio cinema incorporar a historicidade em
suas visões de mundo, como um meio de se apreender a ética contemporânea, cuja
base é o respeito e a valorização da diversidade cultural (STAM, 2003). A par
das diferenças e da polissemia de sentidos, o cinema se constitui como meio, movimentando a literatura, a
pintura, a música, a escultura, a fotografia, a arquitetura, enfim, a arte e a
técnica de um modo geral, revelando um potencial estético e ético, ao recortar
as diversas narrativas e constituir seu “próprio discurso” por meio de uma bricolagem
de linguagens e sentidos. Segundo Stam (2003), no sentido da produção do
conhecimento o cinema foi vinculado, por diversos autores, ao modernismo
artístico e ao impressionismo como projeto de desafio à percepção e ao
entendimento, bem como de vinculação do cinema à arte.
Os sentidos de arte dados ao cinema vão desde
a estilização da vida, possibilitada pela tecnologia, a uma analogia com uma
sinfonia musical para a significação do cinema como “sinfonia visual”, “a única
arte verdadeiramente moderna” (DULAC apud STAM, 2003).
O
cinema, arte da visão, assim como a música é uma arte da audição deveria nos
conduzir a uma ideia visual constituída de vida e movimento, à concepção de uma
arte do olho, transformada em uma inspiração perceptiva que se desenvolve em
sua continuidade e que atinge, assim como a música, nossos pensamentos e
sentimentos
(DULAC apud STAM, 2003. P.51).
Por fim, o movimento e o ritmo compunha a essência da expressão cinematográfica.
Abel Gance (1927, apud STAM, 2003,p.51) afirma que “o cinema dotaria os seres
humanos de uma nova consciência cinestética: os espectadores ‘ouvirão com os
olhos. Prefigurando a visão epifânica do cinema.” Os close-up, produziriam a
impressão de uma eterna e evanescente beleza, algo que transcende a arte e a
própria vida. Talvez o que se poderia pensar como estética e epifania da
existência, efeitos do desejo de superação do real fatídico, tão desejado pelo homem na busca de uma transcendência ao icomodativo.
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